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Aplicação da Cannabis medicinal em doenças neurológicas.

Já se sabe que o canabidiol (CBD) é um fitocanabinoide não psicoativo com efeitos antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e antipsicóticos. Há anos pesquisadores estudam os efeitos deste canabinoide em diversos tipos de patologias. Além disso, o canabidiol tem sido amplamente estudado para o tratamento de doenças neurológicas, tais como: epilepsia, doença de Alzheimer, esclerose múltipla e doença de Parkinson.

 

Milhões de pessoas no mundo todo são afetadas por doenças e distúrbios neurológicos, que podem ser causados por fatores genéticos e/ou ambientais. Muitas são incuráveis e os medicamentos disponíveis atuam amenizando os sintomas e oferecendo uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Neste sentido, os fitocanabinoides, em especial o canabidiol derivado da planta Cannabis sativa, representam uma classe de compostos seguros e com benefícios em várias doenças neurodegenerativas e psiquiátricas. Ainda, considerando que o perfil de toxicidade e dependência do canabidiol é baixo, o CDB tem sido bastante utilizado como terapia adjuvante nos casos em que os tratamentos convencionais disponíveis não são satisfatórios.

 

O canabidiol atua no corpo hora como agonista, hora como antagonista, dependendo a que receptor ele se liga e o resultado disso é a atuação em diferentes funções do corpo. Em um estudo realizado em 2020 na Itália, pesquisadores do centro de neurociências do instituto Bonino Pulejo, fizeram uma revisão de artigos referentes às doenças e distúrbios neurológicos, publicados entre 2004 e 2020. Os artigos considerados foram aqueles com palavras chave relacionadas ao tema e também os que avaliaram os mecanismos bioquímicos e moleculares do CBD e sua aplicação terapêutica em doenças neurológicas. Através desta pesquisa, foi possível chegar a diversas conclusões com relação à atuação do canabidiol nas doenças neurológicas.

 

Por meio da ativação de receptores de adenosina, o CBD exerce efeitos anti-inflamatórios em modelos de esclerose múltipla, dano hipóxico-isquêmico, doença de Alzheimer e encefalopatia hepática. Os efeitos neuroprotetores do canabidiol são mediados, pelo menos em parte, pelos receptores de serotonina, protegendo contra a isquemia cerebral e melhorando a função cognitiva e motora em modelos experimentais e in vivo de encefalopatia hepática. As propriedades ansiolíticas são moduladas através da ativação dos receptores de serotonina, em modelos experimentais de transtornos de comportamento do tipo ansiedade.

 

Através da ação antagonista em receptores acoplados à proteína G (GPR55), o CBD exerce seus efeitos anti-inflamatórios em modelos experimentais de síndrome de Dravet, doença de Parkinson e encefalomielite autoimune experimental. Também, o canabidiol ativa e dessensibiliza rapidamente canais de potencial receptor transitório vanilóide 1, induzindo efeitos anti-hiperalgésicos e induz uma via de sinalização que pode reduzir as características do Alzheimer. Ainda, por meio da ativação de canais de potencial receptor transitório vanilóide 2, o CBD aumentou a proliferação celular e melhorou a ação dos medicamentos quimioterápicos. 

 

As propriedades neuroprotetoras do canabidiol são realizadas por meio de vários mecanismos de ação exercendo efeitos através de múltiplos alvos biológicos. As evidências pré-clínicas analisadas neste estudo de pesquisadores italianos, associadas ao já relatado perfil de segurança do CBD em humanos, destacam que o CBD representa uma nova oportunidade para o tratamento de várias doenças neurológicas.

 

Referências: Silvestro, S., Schepici, G., Bramanti, P., & Mazzon, E. (2020). Molecular Targets of Cannabidiol in Experimental Models of Neurological Disease. Molecules, 25(21), 5186. doi:10.3390/molecules25215186